Depois de um tempo sem nosso contato, achei essa reflexão encaminhada pelo colega Claudio sobre um assunto que normalmente comentamos em aula. Turmas ''avançadas'' e turmas de ''iniciantes'', ou turmas de ''intermediários''..... termos assim que, por vezes, alem do aspecto didático, as vezes por soar pejorativo ou até discriminatório.... Achei bem equilibrada a colocaçao abaixo, por Gilberto Schulz
O QUE É UMA PRÁTICA "AVANÇADA" DE YOGA ?
Desconfio que muitas pessoas responderiam que uma prática avançada é aquela com posturas dificílimas de serem executadas devido a um alto grau de exigência em termos de flexibilidade e força.
Já quem conhece um pouco mais as possibilidades práticas do yoga, se lembrará dos pranayamas, os exercícios realizados por meio da respiração, e talvez imagine que a prática avançada tenha relação também com o tempo de retenção da respiração, seja de pulmões cheios ou vazios.
E se você ainda lembrou da meditação, como avaliaria seu progresso nessa técnica? Será que tem relação com o tempo de permanência de olhos fechados e com as pernas cruzadas?
Não é minha intenção, neste breve texto, esgotar as questões apresentadas. Pretendo apenas fazer dele um convite à reflexão. Deste modo, acredito que podemos desconstruir alguns estereótipos que afastam algumas pessoas da prática de yoga e que também afastam a prática de yoga de sua verdadeira essência.
Para não haver confusão com o uso da palavra “avançada”, é claro que podemos usá-la para nos referir às posturas mais difíceis e aos pranayamas com retenção, de técnicas avançadas visto que elas dependem de toda uma preparação para serem realizadas com segurança e adequação.
Algumas dessas posturas e técnicas respiratórias, inclusive, além de preparação, dependem de aptidão física, nem toda limitação está na mente, como alguns dizem.
No entanto, será que cabe adjetivar de avançada, uma prática como um todo ou um praticante, segundo critérios de força, flexibilidade, fôlego ou pelo tempo que aguenta de pernas cruzadas e olhos fechados? A meu ver, não mesmo.
Não existe essa relação direta e ainda poderíamos, inclusive, pensar numa lógica inversa. Por exemplo: alguém que necessite da dificuldade e da complexidade de uma técnica para conseguir se concentrar na sua realização, terá avançado quando conseguir o mesmo nível de atenção na execução de uma técnica mais simples.
Por outro lado, aspectos simples podem revelar progresso, como por exemplo, a forma de preparar a base das posturas: o ajuste dos pés, a forma de se sentar; a maneira como se eleva ou se estica os braços; o rosto relaxado, uma respiração profunda, tranquila e ritmada; ausência da necessidade de autoafirmação se comparando, se exibindo ou competindo; atenção direcionada para a realização das ações propostas e equanimidade diante dos êxitos e das dificuldades.
Enfim, pode até ser que esses aspectos não sejam tão simples assim, no entanto são realizáveis por qualquer pessoa interessada e comprometida com a prática.
Indo além, considerando as técnicas do yoga como um conjunto de instrumentos auxiliares no caminho do autoconhecimento ou como um meio de obter uma vida relativamente mais plena, fica fácil deduzir que usar o instrumento mais difícil por si só pode não ser tão relevante, quiçá pode até ser desastroso.
Logo, para visualizar e se situar nessa relação entre meios e fins, é fundamental refletir sobre seu objetivo com a prática. Tendo um objetivo, a ideia de avanço assume um sentido mais definido, passa a indicar o progresso ou aproximação em direção a algum ponto e imediatamente deixa de ser uma questão de performance ou de comparação. Então é importante pensar: O que de fato espero e pretendo com o que estou fazendo? Aprofundar essa resposta por si só tem mais a ver com avançar no yoga do que se sentar de pernas cruzadas e olhos fechados por horas.
Nessa altura, apesar de não ser o enfoque do texto, não posso deixar de destacar que a prática de yoga como um todo anda de mãos dadas com um corpo de conhecimento original e único que aponta para o objetivo por de trás de todos os objetivos. E quanto mais forte é esse aperto de mãos, mais aprofundada e ao meu ver, avançada, se torna a prática.
Resumindo, poderíamos então dizer que por um lado, de forma alguma, a capacidade física de uma pessoa determina o nível dela no yoga e pelo outro, que o mais importante é o uso conjugado dos elementos que compõe o yoga de modo abrangente e adequado a nossa constituição psicofísica, ao nosso momento e atividades que desempenhamos e tendo como norte o aprofundamento da visão do nosso objetivo.
Por fim, diria ainda que o que determina se a prática de yoga é ou não avançada não é somente o professor ou a aula proposta. O professor, é claro, deve estar preparado para planejar aulas de todos os tipos, que satisfaçam tanto iniciantes quanto pessoas com anos de prática. Mas, independente da aula proposta, mesmo realizando técnicas mais fáceis, um praticante qualificado faz com que ela seja, para ele, avançada. E um dos grandes segredos para se chegar nesse nível é saber assumir e conservar, diante das aulas e da vida, uma atitude de aprendiz.
Harih Om